21 de junho de 2010

“A Frelimo sujou conquistas da Independência com políticas devastadoras”


“A Frelimo sujou as conquistas da Independência com as suas políticas devastadoras”

– afirma o presidente do partido Renamo, Afonso Dhlakama, a propósito da celebração dos 35 anos da Independência Nacional

“Toda a gente abraçou a Independência por ter lutado por ela, e, com a saída dos colonos, os nacionalistas já se podiam afirmar, mas, surpreendentemente, o Governo da Frelimo veio a piorar a situação e em muito pouco tempo matou muitas pessoas, mais do que durante os quinhentos anos da colonização portuguesa. A Frelimo negou a democracia. Matou quem se arriscasse a pensar de maneira contrária à sua ideologia marxista-comunista. Quem pensasse de forma diferente era morto. Muitos moçambicanos foram fuzilados por serem acusados de anti-independência” – Afonso Dhlakama
Nampula (Canalmoz) – O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, convidou a imprensa, na última sexta-feira, para falar dos 35 anos da conquista da Independência Nacional, que se celebra na próxima sexta-feira. Na sua alocução, Dhlakama disse que o partido Frelimo, que está no poder, “sujou este período, fruto do sacrifício e conquista de todo um povo”.
“Toda a gente abraçou a Independência por ter lutado por ela, e, com a saída dos colonos, os nacionalistas já se podiam afirmar, mas, surpreendentemente, o Governo da Frelimo veio a piorar a situação e em muito pouco tempo matou muitas pessoas, mais do que durante os quinhentos anos da colonização portuguesa”.
Dhlakama disse que “a Frelimo negou a democracia. Matou quem se arriscasse a pensar de maneira contrária à sua ideologia marxista-comunista. Quem pensasse de forma diferente era morto. Muitos moçambicanos foram fuzilados por serem acusados de anti-independência”.
O líder da “Perdiz” considera que houve muitos abusos, citando, a título de exemplo, o facto de “pessoas com a segunda classe serem colocadas como juízes e advogados por confiança partidária”.
“A Frelimo restringiu a circulação no país e despovoou o país levando pessoas para as aldeias comunais e campos de reeducação, com o pressuposto de criar um ‘homem novo’ através da introdução, neles, do pensamento da Frelimo”, sublinhou Dhlakama.
Segundo a análise que o líder do partido Renamo fez na sua residência, em Nampula, durante parte deste período a “economia era toda dirigida pelo Governo da Frelimo, sobretudo quando se deram as nacionalizações” e “o SNASP tinha o poder de odiar, perseguir, julgar e condenar à pena de morte, por discordar com os ideais do Governo da Frelimo, e até chegaram a chamboquear mulheres nas nádegas”.

Perseguição a régulos e a religiosos

O presidente da Renamo disse que o Governo da Frelimo perseguia os régulos, substituindo-os por grupos dinamizadores, alegando que os mesmos eram obra e instrumento do colonialismo.
Em relação às igrejas, Dhlakama disse que as mesmas tornaram-se sedes da Frelimo, e as pessoas foram impedidas de rezar, e “para lograr os seus intentos, foram introduzidos novos colonos, que eram os russos, que sugavam toda a riqueza de Moçambique”.
“A Frelimo fez muita barbaridade ao seu próprio povo. Não estou a favor do colonialismo e nunca estive, por isso a Renamo nasceu como produto da saturação do povo, e veja que, durante a guerra da democracia, 85% do país era dominado pela Renamo”, explicou o nosso entrevistado.

“Frelimo manchou a festa”

O líder do partido Renamo afirmou que “o povo queria uma democracia multipartidária e o Governo da Frelimo negava ao povo esta honra, por isso tudo isto manchou a festa dos trinta e cinco anos da Independência”; “foram trinta e cinco anos de fuzilamento, assassinato, opressão, abuso e desprezo de um povo maravilhoso”.
“Há pessoas que têm medo de dizer a verdade e eu falo com convicção como lutador pela democracia”, disse Dhlakama, para depois declarar que, “graças à luta da Renamo, muita coisa mudou, porque a Frelimo apenas queria o monopartidarismo”.
Mais adiante, Afonso Dhlakama disse que os investimentos que actualmente existem no país são fruto da luta da Renamo, porque a “Frelimo não admitia empresas privadas e quem ousasse criá-las era chamado capitalista e explorador do homem”, e “se há eleições multipartidárias, embora fraudulentas, é graças à Renamo”.
O presidente da Renamo acrescentou que “chega de falar de lutas e colocar-se como heróis. Quem é que não lutou? Quando se fala de lutas, fala-se dos filhos deste país que tombaram pela causa da pátria”.

“Se a Frelimo continuar, nada mudará”

Dhlakama disse que, “se a Frelimo continuar no poder, as coisas vão piorar. A Frelimo manteve-se no poder por fraude, sob protecção da Polícia”. O nosso interlocutor prometeu a continuidade da luta, mas de forma pacífica, sem recurso a armas, citando “guerras através da imprensa”.

“Guebuza deve demitir-se”

Mais uma vez, Afonso Dhlakama voltou à carga em relação à exigência da demissão do Presidente da República, Armando Guebuza.
“Guebuza deve demitir-se, porque já é demais. Foi muito criticado e até já cheguei a sentir pena dele. Por exemplo, quando faz a “presidência aberta”, é muito criticado por causa dos sete milhões que ele manda para os distritos, alegando que é para a redução da pobreza absoluta, quando é para revitalizar as bases da Frelimo”, disse.

Governo de Transição

Em relação aos sete milhões atribuídos aos distritos, Dhlakama entende que os mesmos devem ser entregues aos bancos e “não levar o nosso dinheiro e oferecer aos camaradas”, mas, para que tal aconteça, é necessário, na opinião de Dhlakama, que, antes de tudo, “seja criado um Governo de Transição que funcione por um período de dois anos, com vista a ser criada uma ordem política nacional”.
O segundo candidato mais votado nas últimas eleições presidenciais entende que “a política de governação da Frelimo traz luto, porque piora a pobreza absoluta”. “Quantas mulheres morrem nas maternidades por não terem cinquenta meticais para pagar a uma parteira, a fim de serem rapidamente atendidas?”, perguntou Dhlakama.
Para concluir, Dhlakama disse que sente pena dos académicos e intelectuais existentes no país, por não terem a coragem de lutar pela melhoria das condições de vida dos seus compatriotas.

(Aunício da Silva)
2010-06-21